30 outubro, 2012

Alice e o fim de Outubro.

Alice gostava de acordar e ver o céu azul.
Gostava de se olhar no espelho e seus olhos estarem mais verdes.
Gostava de quando sua mãe preparava um copo de leite quente antes que ela saísse de casa.
Alice gostava de ler Nietzsche a caminho do trabalho.
Gostava de encontrar o casal de velhinhos de mãos dadas em frente ao condomínio.
Gostava de ouvir "Bom dia" da amiga ao chegar no trabalho.
Alice perguntava a todo mundo, o dia todo: "Tudo bem?". Ela sempre esperava que uma das respostas fosse realmente sincera, com vontade, com importância.
Alice gostava de algumas coisas, e sorria se perguntando: "Como posso?".
Alice sempre detestou o frio. De frio, já bastava o coração.
Alice se dava outros nomes. É sempre mais fácil falar de um outro alguém do que de si.
A cor preferida de Alice era laranja. Ficava encantada quando via no final da tarde que o telhado do mundo parecia um vulcão.
Alice sorria pra tudo, pra todos, pro mundo. Parecia muito mais fácil assim...
Alice sempre fez tudo que quis, não se importando com 3º do plural; mas se sentia perdida o tempo todo.
Se perdia nas palavras, nos atos, sentimentos.
Enquanto escrevia, Alice se perdeu no carisma do Sr. Alaércio. Se encantou com sua bondade e com sua camisa xadrez verde e roxa.
Alice se chateava com a arrogância alheia. Ficou pensativa a manhã toda quando uma professora disse que ela não tinha cara de quem gostava de ler o mestre da filosofia alemã. Alice esqueceu rápido disso após notar que profissão não define caráter, muito menos inteligência.
Alice achava que "superestimado" era explicação pra tudo. Mas a explicação era bem mais complexa que uma só palavra.
Se interessar realmente por alguém, entender, apreciar, querer bem.
Alice sorria ao ver o Sr. Ariovaldo. Sua vontade era chamá-lo pra jogar xadrez na praça. E que os 57 anos de diferença não impedisse sorrisos e admirações.
Outubro. Outubro é o mês da simplicidade; pra mim. E claro, pro Sr. Ariovaldo também.
Centro, 142. Tem até o próprio sobrenome na rua em que mora.
E se Alice mandasse seus pensamentos por meio de uma carta?
Ah, Alice...
Alice gostava de tomar banho quente, até ficar vermelha.
Alice gostava de usar samba canção e sentar na sala pra fazer palavras cruzadas com seu pai.
Alice gostava de dormir cedo, mas ficava jogando videogame até seus olhos começarem a arder de sono.
Dormia tarde e acordava pensando na hora que poderia dormir de novo.
Alice gostava de dormir pra esquecer. Esquecer do mundo, esquecer das mágoas e desapontamentos que os dias traziam.
Às 7:00 da manhã, quanto vale a vida?
Pra Alice, a vida valia risos e sorriso do Sr. Ariovaldo, da querida Dai, das pessoas como o Sr. Alaércio, Moisés, Dona Irene...
A vida de Alice tinha só um sentido: fazer rir.
E então o gostar e desgostar de Alice começava de novo.
Alice gostava de acordar e ver o céu azul.
Alice gostava de recomeçar. Dia-a-dia.

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