19 dezembro, 2013

Sobre olhar pra dentro e encontrar sossego

Precisava de mudanças urgentes. Já não suportava o caos que habitava nessa minha cabecinha enorme. 
Falar é fácil... fazer, nem tanto. Comecei a colher as consequências das minhas atitudes ingênuas e inconsequentes.Tive que criar estrutura psicológica pra fazer as pazes com a minha consciência.Sempre fui muito auto-repressora, e em alguns momentos tudo o que eu queria era relaxar e esquecer dessa voz chata que falava dentro da minha cabeça.
Quis ignorar meu próprio eu. Me privei de muita coisa, inventei teorias e joguei culpa nos outros pra auto-justificação.
Criei uma ilusão infantil e narcisista pra ficar em paz, e acreditei por um bom tempo que a ilusão funcionava. Foi aí que me enxerguei como "pessoa-coisa", que usava outras pessoas como coisas.
Quando falo "pessoa-coisa" quero dizer do vazio imenso implorando por algo que acalme e preencha a nossa alma. Vazio que a gente finge que não existe.
Como "pessoa-coisa" que era (e estou me esforçando pra deixar de ser) vagava pelo inferno dos desejos nunca satisfeitos. Escrava dos próprios desejos, pensava ser livre... Outra ilusão!
Corrida desenfreada que não acabava nunca.
Quis entender melhor o que dizem ser nosso lado espiritual/alma/seja o que for. No início enxerguei mais coisificação: regras rígidas e inúteis, de fora pra dentro, que não transformava ninguém verdadeiramente.
Tá cheio de gente vivendo "espiritualidade" de um jeito materialista, né? Comprando um monte de badulagem "espiritual", enchendo a casa de estátua de deus não sei das quantas, com pingente de elefantinhos, acendendo incenso sem saber pra que... E o vaziozão lá no peito!
Notei que tava procurando paz de espírito no lugar errado.
Falar de paz é a coisa mais simples que existe. Fazer paz (aqui e agora, em qualquer situação) é que complica.
Respirei fundo e olhei pra mim. De dentro pra fora.
Ouvi finalmente a voz da minha cabeça e puff: QUE DESENCANTO! A sensação foi de estar numa floresta e só enxergar lenha.
O coração apertou e aquele vazio que eu mesma alimentava me incomodou. Dessa vez decidi me ouvir.
Quis dar sentido naquilo que eu sempre acreditei, naquilo que acho ser a única revolução verdadeira: o amor!
Me entreguei a isso. Dediquei-me com toda força e coragem. De nada adiantava ficar na beira d'água sem coragem pra nadar no fundo.
Aprendi que racionalidade era uma ilusão. Somos racionais no discurso, mas na prática nem tanto, né?
Deixei de lado o narcisismo pós industrial e enxerguei minhas inseguranças e defeitos. Também passei a ver melhor meu lado criativo, e a quebrar e criar limites.
Preciso de limite e responsabilidades, ou tudo continuaria insaciável, e logo o vazio voltaria.
Me desprendi do medo, da banalização do sexo, do amor, do corpo humano, da violência...
Senti que o mal esteve dentro de mim esse tempo todo, e era ele quem fazia eu ignorar a voz da minha cabeça. Era esse mal que me fazia desistir dos relacionamentos na primeira briguinha, era esse mal que anulava o que eu precisava expressar, era esse mal que me deixava cega.
Passei a me conhecer melhor, a conhecer melhor as outras pessoas, a analisar todos os lados da minha personalidade (agradáveis ou não) e me ajudar a ser melhor.
Quando não aceitamos o diverso, nos tornamos adversos.
Aprender a amar nós mesmos no espelho - que é o outro.
Admirar virtudes minhas e dos outros, aos poucos. Processo bem lento.
Só conhece a si mesmo quem tem muita vontade, e só se conhece o amor quem tem muita perseverança.
O trecho a seguir me tornou um pouquinho menos "pessoa-coisa" do que era antes.
"Fenômenos que acreditamos ser aleatórios mas que na verdade, também obedecem a ordem. Ordem tão complexa que nossos olhos e mentes tem dificuldade de visualizar. Nossos olhos até visualizam, mas nosso 'computadorzinho de bordo' não tem capacidade de produzir em linguagem humana a ordem que existe nesse fenômeno." (Carlos Matlz)
Foi aí que entendi que caos nada mais é que ordem... E finalmente consegui por em ordem toda a bagunça da minha cabeça. Preenchi o vazio com a única coisa que pode nos salvar da coisificação: o amor.
Carlos Drummond de Andrade escreveu: "Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente."
Termino dizendo que sou menos "pessoa-coisa" hoje. Sou menos "pessoa-coisa" escrevendo isso aqui e agora. Sou menos "pessoa-coisa" depois de ter aprendido o que é idiossincrasias e de lembrar que toda música do Dylan me faz só pessoa, não coisa. The answer is blowin' in the wind, e está dentro de nós também.

Um comentário:

Unknown disse...

Viver é uma arte, viver feliz são duas formas de arte, e a arte se expressa dentro das coisas mais simples que estão escondidas bem no fundo de nos mesmos!